e sua conta
Ainda não é ?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso !
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

'Eu achei que seria baleada', diz moradora que se jogou no chão para se proteger de tiroteio em praça da Pituba

Local estava cheio de adultos e crianças quando troca de tiros aconteceu, neste domingo (25)

  • Foto do(a) author(a) Monique Lobo
  • Monique Lobo

Publicado em 25 de maio de 2025 às 18:23

Moradores se jogaram no chão para se proteger dos disparos
Moradores se jogaram no chão para se proteger dos disparos Crédito: Lina de Albuquerque/Leitor CORREIO

Crianças brincavam com seus pais, pessoas faziam caminhada, tutores eavam com seus cachorros e tudo estava como esperado em mais um domingo na Praça Ana Lúcia Magalhães, na Pituba, quando o barulho de disparos cortou a tranquilidade de um dos locais mais procurados para atividades de lazer do bairro, neste domingo (25).

Eram por volta de 11h30 quando a jornalista e escritora Lina de Albuquerque, que tinha ido caminhar e escrever na praça, precisou se jogar no chão para se proteger dos tiros. "Foi um tiroteio muito forte, todo mundo se jogou no chão. Os tiros não paravam. A gente começou a achar que eles iam matar as pessoas do chão, nos abraçamos com medo. Foram alguns minutos de tiros, muitos tiros. Quem estava de longe disse que contou mais de 20, mas para a gente que estava lá no chão parecia uma eternidade", revelou, ainda se recuperando do susto.

"Eu nunca ei por isso na minha vida, estou até agora com as pernas bambas", acrescentou.

Ao lado dela, se jogou no chão um casal que também fazia caminhada na praça. A mulher, que mora com a família no bairro há cinco anos e preferiu não se identificar, contou como foi o momento de terror que viveu ao lado do marido.

"Você vê sua vida por um fio, você pensa que vai morrer. Eu achei que seria baleada porque os tiros eram muito próximos. E eu só consegui me abaixar no segundo ou terceiro disparo, porque fiquei em estado de choque", disse.

Foi o grito do marido que a tirou do estado de choque e fez com que ela conseguisse se jogar no chão. "Eu ouvi o primeiro tiro e pensei que era uma bomba. Foi um som muito alto. Foi quando ouvi os gritos: 'polícia, polícia', e mais disparos. Foram vários. Meu esposo se jogou no chão e me disse: 'ele está vindo'. Eu me joguei com tudo, foi muito rápido", lembrou.

Na queda, ela machucou a mão e o joelho e precisou ser atendida em um hospital. "Tive uma escoriação super profunda na mão, achei que tinha até quebrado alguma coisa. Como foi profunda, atingiu terminações nervosas e parte da musculatura".

Moradora, que preferiu não se identificar, machucou a mãe o joelho ao se jogar no chão com o marido para se proteger
Moradora, que preferiu não se identificar, machucou a mão o joelho ao se jogar no chão com o marido para se proteger Crédito: Linda de Albuquerque/Leitor CORREIO

Trauma

As duas mulheres, assim como muitos moradores da região, tinham o hábito de frequentar a praça, especialmente no final de semana. Ambas foram categóricas em dizer que o local estava cheio, como de costume nos sábados e domingos. "Estava muito cheia [a praça], tinham crianças, teve uma moça com os filhos no chão, todos muito desesperados. Foi todo mundo para o chão, a praça inteira, foi surreal", disse Lina.

O susto, no entanto, fez elas perderem a vontade de continuar frequentando. "Eu considerava um lugar seguro. Eu ia caminhar lá à noite, nunca vi nada. O meu lugar de lazer nos finais de semana era lá mesmo. Ia com amigos, parentes, mas hoje estou com medo, não sei se vou voltar lá tão cedo, eu estou traumatizada", revelou a jornalista e escritora, que mora na Barra e escolheu a praça como espaço de lazer justamente pela segurança.

Segundo ela, um morador de um dos prédios em frente à praça Ana Lúcia Magalhães que estava no local durante o ocorrido relatou que pretende sair de lá. "Ele disse que não quer mais ficar lá, que quer vender e se mudar".

A outra moradora, que preferiu não se identificar, compartilhou o sentimento. "Me sinto muito insegura. Salvador está ficando muito instável em termo de segurança. Eu já fui assaltada, o bandido entrou no meu carro e levou celular e outros pertences. Eu ando com muito receio. Nunca poderia imaginar que aconteceria isso naquela praça, não sei quando vou conseguir voltar lá", afirmou.

Assalto e tiroteio na Praça Ana Lúcia Magalhães
Praça é conhecida por abrigar muitas pessoas nos finais de semana Crédito: Lina de Albuquerque/Leitor CORREIO

Motivo dos disparos

Até o início da noite, os moradores ainda não sabiam o que tinham dado início ao tiroteio. Segundo Lina de Albuquerque, a informação que recebeu no local é de que três homens estavam assaltando as pessoas na praça. "Um senhor de meia idade do prédio branco em frente à praça disse que duas mulheres tiveram as correntes roubadas e também foram parar no chão", acrescentou.

Ainda segundo ela, quando uma viatura da Polícia Militar (PM) chegou e percebeu os assaltos, agentes atiraram para cima para interromper os criminosos. Um deles foi baleado e capturado, os outros dois fugiram.

Policiais militares chegaram ao local para atender a ocorrência
Policiais militares chegaram ao local para atender a ocorrência Crédito: Lina de Albuquerque/Leitor CORREIO

Linda recordou também que uma tenente esteve no local e informou que se chamava Marivane e era a coordenadora da operação daquela investigação na 16ª Delegacia Territorial da Pituba, localizada na Avenida Magalhães Neto. A oficial informou a escritora que assaltos tinham se tornado mais frequentes na região.

Outra versão, que circulou em grupos de mensagens de moradores do bairro, era de que o tiroteio começou com uma tentativa de assalto em uma loja da rede Pague Menos, que fica bem em frente à praça. Em uma mensagem, um morador afirmou que a mãe dele estava na farmácia e presenciou a tentativa de assalto. Ela teria saído correndo do local. Ainda de acordo com a mensagem, um policial civil à paisana teria reagido, o que deu início aos disparos. "Por sorte só o bandido foi atingido, mas andamos assustados o tempo inteiro", finalizou a mensagem.

Marcas de sangue ficam no eio na praça
Marcas de sangue ficaram no eio na praça Crédito: Lina de Albuquerque/Leitor CORREIO

Procurada, a PM informou apenas que agentes da 35ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) foram acionados para averiguar uma ocorrência de disparo de arma de fogo na Rua Padre Manoel Barbosa, nas imediações da Praça Ana Lúcia Magalhães. "No local, os militares confirmaram a presença de um homem ao solo, consciente, vítima de disparo de arma de fogo. O SAMU foi acionado e o homem socorrido para uma unidade de saúde".

Questionada sobre quem teria feito o disparo que atingiu o homem citado, a corporação não respondeu. A PM também não informou a unidade de saúde para onde a pessoa foi encaminhada.

Inicialmente, a Polícia Civil (PC) não tinha identificado a ocorrência quando foi procurada pela reportagem. Mas, no início da noite retornou o contato e informou que um homem tentou furtar a corrente de um transeunte. "Durante a fuga, outro homem ainda não identificado atirou contra o suspeito, atingindo na perna uma pessoa que ava no local, a qual foi socorrida para o HGE [Hospital Geral do Estado] e não corre risco de vida", revelou o órgão em nota.

Ainda segundo a PC, diligências foram realizadas na região para localizar o suspeito da tentativa de furto e o autor do disparo. "O procedimento foi encaminhado para a 16ª DT/Pituba, que seguirá com a investigação. A Polícia Civil busca imagens de câmeras de segurança do local para auxiliar na identificação de todos os envolvidos na ação criminosa", completou o comunicado.

A assessoria de comunicação da rede Pague Menos chegou a ser procurada pela reportagem antes da confirmação da PC sobre o caso, mas não respondeu.

Rotina de tiroteios

Até a última terça-feira (20), 659 tiroteios tinham sido registrado em Salvador e Região Metropolitana (RMS) só este ano, de acordo com o Instituto Fogo Cruzado, que produz dados sobre violência armada. Neste período, 555 pessoas foram mortas nessas trocas de tiros e outras 123 ficaram feridas.

No último dia 17, um recorde alarmante: a capital baiana e a região metropolitana alcançaram a marca de cinco mil tiroteios desde julho de 2022, quando o instituto iniciou seus estudos no estado. Nesses quase três anos de análise, foram 3.839 pessoas mortas nessas trocas de tiros e outras 998 feridas. Entre as 4.837 pessoas baleadas ao todo neste período, houve, em média, 138 vítimas de disparo de arma de fogo a cada mês.

Ainda de acordo com o levantamento, dos cinco mil tiroteios, 2.290 foram casos de homicídio ou tentativa de homicídio, 1.851 ocorreram durante ações e operações policiais, 523 em tentativas de roubo, 488 em disputas entre grupos armados, 93 em brigas e 80 em sequestro ou cárcere privado. Houve ainda 108 chacinas, que resultaram na morte de 401 pessoas.