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Donaldson Gomes
Publicado em 31 de maio de 2025 às 05:00
Desta vez, o garoto deslocado que tenta se enturmar num ambiente hostil é chinês. A franquia Karatê Kid apresenta a sua sétima obra, incluindo na contagem o filme original, as sequências, um remake e a série Cobra Kai, que provavelmente foi a responsável pela sala de cinema lotada de gente com mais de 40 anos, como este colunista, mas principalmente o público infanto-juvenil, no último domingo à tarde, no Cinemark do Salvador Shopping. Tudo bem que não havia lugar para mais ninguém, mas senti falta da turma que se interessa por geopolítica. Sim, porque, sem a menor sombra de dúvidas, Karatê Kid Lendas é um filme sobre a grande disputa global da atualidade. >
No filme de menos de duas horas, tempo que a sem você se dar conta, o personagem de Jackie Chan se une a Ralph Macchio, o eterno Daniel Sam, para socorrer Li Fong, um adolescente chinês interpretado por Ben Wang, que muda para Nova York e se vê forçado a se adaptar à cultura ocidental. Neste processo faz amigos e inimigos, numa história que repete uma fórmula batida, mas bem sucedida, que envolve superação, honra, romance e muitos risos. Não sei como é a programação da Sessão da Tarde hoje, mas é o típico filme que a gente se sentaria no sofá para assistir pela milésima vez numa tarde de ócio. Ou aquele que você nem precisa ver para saber o final. >
O caso é que Lendas pode trazer reflexões muito interessantes, se visto como uma alegoria da disputa global entre as duas grandes potências da atualidade. Vou trazer alguns pontos, tentando não dar spoilers do filme em si, mas talvez seja inevitável ar algum tipo de informação. Se isso te incomoda, e para a próxima nota. >
Não sabia até assistir o sétimo Karatê Kid, mas, segundo o personagem de Jackie Chan, existe um ditado chinês que diz: “o problema do meu amigo é meu problema”. Em primeiro lugar, esta frase traz a lógica oposta, apesar de gerar um resultado final semelhante, à uma outra frase bastante repetida em alguns meios: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. A ideia, mesmo não estando descrita exatamente nestas palavras, aparece na Arte da Guerra, de Sun Tzu, e no Príncipe, de Maquiavel. Mas talvez o período histórico em que o inimigo do inimigo mais se tornou amigo foi justamente durante a Segunda Guerra Mundial, que construiu a ordem global que estamos vendo desmoronar sete décadas depois. >
“O problema do meu amigo é meu problema” é o que faz Chan ir para Nova York, em Lendas. Mas também é o que leva a China a não soltar a mão da Rússia, por exemplo. Por falar nos russos, já repararam como os chineses estão substituindo eles no papel de maiores vilões na história americana? Tanto na geopolítica, quanto na ficção. Se houvesse um ranking para a nacionalidade dos vilões, apostaria – não numa bet – que a China está hoje no topo da lista, ocupando o lugar que já foi da Rússia, principalmente na Guerra Fria, mas que antes já pertenceu também aos alemães e japoneses, entre outros que cruzaram os interesses da América. >
Lutar ou não diante de uma agressão? Seria a pergunta que Li Fong precisa responder uma alegoria em relação à crise causada pela guerra tarifária? Não é provável, até porque o filme foi gravado em 2024, antes da nova Era Trump – é bom lembrar que a animosidade entre os dois países vem aumentando há bastante tempo. >
O personagem de Li fala tão bem o mandarim, idioma das primeiras cenas do filme, quanto o inglês, entretanto os personagens americanos desconhecem o idioma chinês. Num determinado diálogo, o garoto mostra para o seu par romântico que falar mandarim pode trazer ótimos resultados comerciais. >
Li Fong é claramente uma representação da China moderna, enquanto cabe a Jackie Chan, com o personagem Mr. Han, representar a cultura mais tradicional do país asiático. Em determinado momento, o mais velho grita “nocaute”, dando a diretriz para o garoto partir com tudo para cima e resolver na força bruta. A versão moderna, por outro lado, é estratégica, avança taticamente, com inteligência e paciência.>
Mas as disputas conceituais não se resumem ao pensamento antigo e o novo, há um choque entre ocidente e oriente. Em um dos momentos deste conflito, o filme mostra que nenhuma das culturas sozinha dará conta dos desafios presentes. Assim como o fictício karatê Miyagi, criado pelo saudoso Senhor Miyagi, eternizado por Pat Morita, falecido em 2005, a relação entre os Estados Unidos e a China é descrita como a de uma só árvore com dois galhos. O mais irônico de tudo isso é que Miyagi era japonês. Paciência… >
No fim, a China, de mãos dadas com a América, vence uma luta épica, no alto de uma torre gigantesca em plena Nova York. Pode ser coincidência, mas é a cidade de Trump, que é um magnata do ramo imobiliário. >
É claro que você tem todo o direito de achar essas movimentações geopolíticas uma grande chatice, porém, ainda assim Lendas pode ser uma boa pedida. Não foram à toa os efusivos aplausos em diversos momentos do filme e até mesmo algumas lágrimas. Talvez eu tenha contribuído com algumas gotas. >
Melissa, não, gente…>
A alta nos preços do café está conduzindo o Brasil a situações surreais. Primeiro tem a dificuldade de encontrar nas gôndolas de supermercados produtos de qualidade superior ou gourmet, mas, tudo bem, tratam-se de questões mercadológicas. O problema é que o cenário está estimulando ações criminosas, de roubos do produto em fazendas, e até o surgimento de “café fake”, como o famigerado Melissa, imitação barata de uma marca famosa. Aí não, né. >
Já conhecem o labubu?>
Velho que sou, não conhecia o labubu, um boneco com cara de enfezado que anda fazendo a cabeça de quem tem mais de US$ 300 livres para gastar com bobagens. O tal do labubu rendeu mais de US$ 2 bilhões de lucro ao fabricante e chegou a ter as vendas proibidas em lojas no Reino Unido, para evitar aglomerações. Na falta de bonecos disponíveis para compra, tem gente alugando. Virgínia foi à I das Bets com o seu pendurado na bolsa. Me deixe, viu.>
Respeitem Marina>
A ministra Marina Silva já garantiu o seu nome na história da humanidade. Se conseguirmos salvar o planeta de uma catástrofe climática, será lembrada como uma das vozes que ajudou o mundo a despertar para o problema. Se tudo der errado, terá sido uma das vozes que alertou em vão. Já os três senadores que a trataram de maneira vil terão seus nomes esquecidos em breve.>
O que aconteceu Aldo?>
O ex-ministro Aldo Rebelo, que trabalhou nos governos de Lula e de Dilma, está oficialmente na extensa lista das pessoas que eu gostaria de entrevistar um dia. Sem nenhum tipo de julgamento, queria entender o caminho que levou o notório comunista – ou ex, não sei como tratar – a cair nas graças de integrantes da extrema-direita brasileira. >
Na mão grande>
Depois de incluir a região de Essequiba nas eleições distritais da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro avisou que a Guiana será obrigada a “aceitar a soberania” – um eufemismo para a tomada do seu território, na mão grande, como se diz aqui na Bahia. Por trás da disputa há uma gigantesca reserva de petróleo.>
memes da semana>
Difícil algum outro meme superar a montagem do presidente francês Emmanuel Macron machucado depois do tapa que recebeu da esposa, Brigitte, ainda dentro do avião, na chegada ao Vietnã. Não deu para Ancelotti, nem para mais ninguém.>
A chegada do treinador Carlo Ancelotti para treinar a seleção brasileira fez a turma resgatar o inesquecível Bomba Pacth, uma atualização nos elencos dos times brasileiros no jogo de videogame Pro Evolution Soccer. Carletto também foi lembrado pelas torcidas de Bahia e Vitória, veja mais abaixo. >
(Viu algum meme interessante e quer mandar para a gente? Encaminha para [email protected])>
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