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Maysa Polcri
Publicado em 6 de junho de 2025 às 10:01
A tendência de expansão da doutrina evangélica na Bahia é confirmada com dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (6). O número de evangélicos cresceu 42,7% no estado em 12 anos, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto isso, o catolicismo perdeu 9,4% de fiéis baianos entre os censos. Os católicos ainda seguem como a maioria e representam seis a cada 10 pessoas no estado. >
Os dados divulgados pelo IBGE surpreenderam parte dos pesquisadores que estudam religiões. Havia a expectativa de que o número de evangélicos fosse ainda maior. Na Bahia, o grupo representa 23,3% da população - a porcentagem é inferior à nacional, que é de 26,9%. Ainda sim, o crescimento é significativo. As igrejas evangélicas possuem 2.869.362 de fiéis baianos. Para os especialistas, diversos fatores ajudam a explicar o fenômeno do aumento de evangélicos em todo o país. >
Raphael Khalil, antropólogo e um dos três autores do livro 'Crentes: Pequeno manual sobre um grande fenômeno', lançado em fevereiro deste ano, aponta algumas das razões. O tempo menor de formação de pastores em comparação ao dos padres e facilidade em abrir as portas de templos evangélicos em comunidades são citadas pelo especialista. "São muito comuns casos em que sujeitos se indignam com o que é pregado na igreja ele frequenta, se desliga, e consegue abrir sua própria igreja com facilidade. Muitas vezes, na garagem de sua própria casa", diz. >
Há ainda uma questão comportamental, segundo o especialista. "As igrejas evangélicas conseguem lidar muito melhor com consumo, tendências e questões do nosso tempo. Hoje se fala muito da teologia da prosperidade, que atrai um grande número de pessoas", afirma Raphael Khalil. A corrente teológica citada pelo antropólogo prega abundância material como um sinal da bênção de Deus. >
O Censo revela um declínio da adesão ao catolicismo na Bahia, com redução de 9,4% no número de adeptos. Os católicos seguem sendo a maioria (57%) da população católica, com 7.002.933 pessoas. A proporção é similar à nacional - 56,7% dos brasileiros se dizem católicos. Magali Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser), avalia que a religião tem enfrentado dificuldades para manter seus fiéis. >
"A Bahia acompanha o que está acontecendo no plano nacional, onde a Igreja Católica vem sofrendo um declínio do número de fiéis desde os últimos censos. Vemos uma pluralidade maior no campo religioso, com a diminuição da hegemonia católica, que é histórica no Brasil", detalha Magali. A porcentagem de pessoas que se identificam com 'outras religiões' é de 4,5%. Já a porcentagem de espíritas e de pessoas adeptas da umbanda e candomblé é a mesma na Bahia: 1%. Segundo o Censo, 12,9% da população baiana declarou não ter religião. >
Os números refletem uma sociedade que tem se tornado mais plural, apesar de a intolerância religiosa ainda ser uma realidade. "As religiões são um reflexo das mudanças dos comportamentos das pessoas. Percebemos um aumento, ainda que não estrondoso, da diversidade religiosa no estado", avalia Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE. >
Entre 2010 e 2022, os adeptos de umbanda e candomblé triplicaram na no estado, saindo de 42,9 mil para 123,3 mil. Vilson Caetano, professora do Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Bahia, avalia que as pessoas têm se sentido mais confiantes em declarar suas crenças. >
"As religiões de matrizes africanas vêm conscientizando os próprios adeptos a sair do anonimato e verbalizar qual é a sua religião. As políticas públicas nos últimos 12 anos que contemplaram as comunidades tradicionais e povos de terreiros também contribuem para isso", diz Vilson Caetano, que também é babalorixa da Casa do Rei e Senhor das Alturas.>
Pela primeira vez, o Censo mostra que a capital baiana possui menos da metade de sua população de 10 anos ou mais católica. A religião representa 44% dos moradores de Salvador, seguido de evangélicos (26%), umbanda ou candomblé (2,8%) e espíritas (2,4%). A proporção de pessoas sem religião na cidade é a maior entre todas as capitais brasileiras: 18,5%. Mais de 398 mil pessoas disseram não se identificar com uma doutrina específica, o que não significa necessariamente que todas são ateias (pessoas que não acreditam em qualquer divindade). >