Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Ana Beatriz Sousa
Publicado em 10 de junho de 2025 às 16:14
Um novo estudo científico pode mudar o que se entende sobre a formação sexual de mamíferos. Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, e da Universidade de Osaka, no Japão, identificaram que a deficiência grave de ferro durante a gestação pode interferir na definição do sexo biológico do feto, pelo menos em camundongos. A descoberta, publicada na revista Nature, ainda não tem comprovação em humanos, mas levanta um importante alerta sobre os impactos nutricionais na gravidez. >
Nos testes com os roedores, cientistas notaram que a ausência severa de ferro na alimentação materna silenciou o gene Sry — responsável pela formação dos testículos em embriões XY (masculinos). Sem a ativação desse gene no momento crucial do desenvolvimento fetal, os camundongos geneticamente machos começaram a desenvolver características femininas, como ovários e glândulas associadas ao sexo feminino.>
"Essas descobertas estabelecem um novo papel do ferro na determinação do sexo e indicam que ele pode estar envolvido em outros processos fundamentais do desenvolvimento fetal", explicou Peter Koopman, professor da Universidade de Queensland.>
Pesquisa com camundongos revela que deficiência de ferro pode mudar o desenvolvimento sexual do feto no útero
A pesquisa foi feita em etapas: primeiro, camundongos fêmeas foram submetidas a uma dieta com baixo teor de ferro antes e durante a gestação. O resultado foi surpreendente: 6 entre 39 filhotes geneticamente machos apresentaram ovários totalmente formados. Em outro teste, em que um medicamento bloqueava a absorção de ferro, 5 de 72 embriões XY também nasceram com órgãos sexuais femininos.
>
Em todos os casos, o baixo nível de ferro interrompeu a atividade normal do gene Sry, impedindo o desenvolvimento dos testículos e, consequentemente, levando os embriões a seguirem o caminho da diferenciação sexual feminina.>
Embora o estudo ainda não tenha evidências suficientes para afirmar que o mesmo possa ocorrer com bebês humanos, os cientistas reforçam a importância da reposição adequada de ferro durante a gestação. "Essa é a primeira vez que se demonstra que um fator externo, como a nutrição materna, pode afetar diretamente o processo de determinação sexual em mamíferos", afirmou Makoto Tachibana, biólogo da Universidade de Osaka e líder da pesquisa.>
A descoberta reforça a necessidade de novos estudos sobre a influência do ambiente uterino e da saúde nutricional da gestante no desenvolvimento do feto. Até lá, manter bons níveis de ferro no organismo continua sendo uma medida essencial para a saúde da mãe e do bebê.>