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Elis Freire
Publicado em 27 de maio de 2025 às 18:41
Aos 94 anos, Benedito Ruy Barbosa está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em São Paulo, desde o último dia 20. Autor de novelas como Pantanal (1990), O Rei do Gado (1996) e Renascer (1993), Benedito é considerado um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira. >
Um boletim médico divulgado no último domingo (25) confirmou que o autor apresenta um quadro de insuficiência renal crônica, hoje chamada de doença renal crônica, que motivou a internação. Apesar disso, os médicos informaram que ele vem apresentando evolução positiva nos exames e no estado clínico. Ainda não há previsão de alta.>
Diante do estado de saúde do dramaturgo, o CORREIO conversou com a doutora Ana Flávia Moura - presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia Regional Bahia - sobre os sintomas da doença e os riscos. >
Confira:>
Quais são os principais sintomas apresentados por um paciente com insuficiência renal crônica?>
Ana Flávia Moura: Em geral, são sintomas como náuseas, vômitos, emagrecimento, perda de apetite, falta de ar, inchaço, fadiga. E podem existir sintomas mais graves, como desorientação, convulsão e insuficiência respiratória. Porém, a doença renal crônica é silenciosa em boa parte da sua evolução natural, só costumando apresentar sintomas nos estágios mais avançados. Por isso, é importante acompanhar a função renal, principalmente em quem tem fatores de risco. Só assim é possível diagnosticar a disfunção renal nas fases mais iniciais, quando podemos intervir e controlar a progressão da doença. A função renal é monitorada através de dois exames simples, baratos e disponíveis no SUS: a dosagem da creatinina no sangue e o sumário de urina.>
Qual a diferença entre insuficiência renal crônica e insuficiência renal aguda? É possível se prevenir de ambas?>
Ana Flávia Moura: A insuficiência renal crônica, hoje conhecida como doença renal crônica, é causada por lesões renais irreversíveis, ou seja, a perda da função renal nesses casos não é recuperada. Essas lesões acontecem de forma persistente, como em resultado de uma hipertensão ou diabetes, por exemplo. Por serem lesões que persistem por meses ou anos, levam a formação de cicatrizes renais e, por isso, são irreversíveis. >
Já a insuficiência renal aguda, hoje chamada injúria renal aguda, é causada por lesões renais que surgiram a menos tempo e, portanto, ainda podem ser revertidas, caso tratadas a tempo. Ambas podem ser causadas por condições evitáveis, como hipertensão, diabetes, obesidade, uso inadvertido de anti-inflamatórios ou outros medicamentos, como anabolizantes. Porém, também existem condições não evitáveis que podem causar lesões renais crônicas ou agudas, como doenças genéticas ou reumatológicas.>
Como a insuficiência renal crônica é tratada? A hemodiálise é a única forma?>
Ana Flávia Moura: A doença renal crônica tem 5 estágios e cada um deles demanda cuidados específicos. Nos estágios iniciais e intermediários, buscamos controlar a evolução da doença para os estágios mais graves. Fazemos isso usando medicações que protegem os rins evitando fatores que podem agravar as lesões renais, como: hipertensão, diabetes, obesidade, desidratação, toxicidade renal por medicamentos, contraste ou outras substâncias. Na fase mais avançada, pode haver necessidade de um tratamento que substitua a função dos rins, o qual pode ser diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) ou transplante renal.>
Como a doença afeta a qualidade de vida? Há risco de morte?>
Ana Flávia Moura: A Doença renal crônica interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas, uma vez que pode causar sintomas que reduzem seu desempenho nas atividades diárias, como: náusea/vômitos, fadiga, inchaço, falta de ar, sonolência e também pode estar associada a complicações como anemia e doenças cardiovasculares. Além disso, por aumentar o risco cardiovascular, a doença renal crônica está associada a menor sobrevida (maior risco de morte).>